sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

abismo



aBi____S______mO
-- marcos leonidio --

nada mais nos aproxima
nem o doce sabor do verão
nem as manhãs que anunciam a primavera
nem as tardes que celebram o outono
nem nossos banhos de piscina à beira-mar

nada mais nos aproxima
nem as divergências circunstanciais
nem a vontade de querer bem
nem a nostalgia que ainda contagia
nem o clamor dos nossos corações

nada mais nos aproxima
nem as revelações do passado
nem as buscas do presente
nem as realizações pro futuro
nem o discurso maduro
temperado por um ciúme imaturo

nada mais nos aproxima
nem as realidades sonhadas
nem os sonhos realizados
nem a apaixonante alegria
dos beijos trocados

nada mais nos aproxima
nem a proximidade dos olhos
nem o calor dos corpos
nem a profundidade das nossas almas
nem o entendimento
desenvolvido a partir
dum doloroso sofrimento

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

crepúsculo 40



crepúsculo 40

o sol se escondeu
atrás de uma montanha obscura de acontecimentos
enquanto isso [...]
estrelas fragmentadas
foram jogadas uma sobre a outra
num canto qualquer do hemisfério norte.

m.leonidio

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

minha mocidade



minha mocidade
leonidio, marcos

é andando pela cidade
que consigo perceber
que consigo sentir
minha mocidade escorregar por entre os dedos
como algo gelatinoso
escorregadio e gorduroso

minha mocidade esvai-se
sem olhar para o lado
por entre as paisagens da grande cidade
algumas vezes
na dor de uma saudade
ou quando se perde
a doce cumplicidade de antes

minha mocidade desassocia-se de mim
incontinente
dona de si
visivelmente estremecida
afinal não soubemos vivenciá-la
nem eu
nem meu tempo

minha mocidade indivisível
já não faz mais parte de mim
ela afugentou-se em outro olhar
para atormentar-me muito antes do fim
de um ciclo
de um tempo que jamais voltará

minha mocidade tinha asas
eu não sabia
minha mocidade era audaz
eu não sentia
minha mocidade era destemida
eu filosofava mais do que vivia
minha mocidade era vanguardista
eu não definia minhas ações

minha mocidade era mais racional
do que eu
deixei-me levar pela percepção
mal fundamentada
e na vida real não existe replay
é preciso viver
cada minuto
cada segundo
de forma ímpar, inédita
e revolucionária.