quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dissonância



DISSONÂNCIA


Você não quer falar comigo
Mas eu quero falar contigo

Você não quer viver comigo
Mas eu quero viver contigo

Você não quer estar comigo
Mas eu quero estar contigo

Você não quer ficar comigo
Mas eu quero ficar contigo

Você não quer sonhar comigo
Mas eu quero sonhar contigo

Você não quer amar comigo
Mas eu quero amar contigo

Você não quer namorar comigo
Mas eu quero namorar contigo

Você não quer me compreender
Mas eu insisto em ser compreensivo
Você não quer me encontrar
Mas eu faço questão de te achar
Você não quer me dar uma chance
Mas eu faço o possível pra te alcançar

Você não quer mais me ver
Mas ainda assim eu quero ter você
Você já não me suporta
Mas eu ainda bato à sua porta

Você não me quer [...]
não me quer [...]
não me quer [...]
Mas eu só quero
Só quero [...]
Só quero [...]
Você!
Estamos caminhando em estradas paralelas
Mas nosso sonho segue distante
Em diferentes planos de diferentes esferas
Nossa vontade é caminho dissonante!


Marcos Leonidio

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

sina do sertanejo



sina do sertanejo
M.Leonidio


no veio da terra
ressecada
da caatinga
dissecada
pela estiagem
sem-fim
o que será de mim?

sertanejo
quérendo umidade
chuva abundante
não tenho mai lágrima
suplico humanidade
e não tenho mai vontade
de ir pra cidade
quero minhas raízes
tomar banhi de rio
dançar meu baião
com minha nega
arrastando poeira
tomar minha cachaça
falando besteras

sô cabra-da-peste
mai tô definhando
feito o gado fantasma
que pastava no meu pedacim-de-terra

a tristeza no oiar
dos meus onze fis
me trazem um ar amargo
de condenação quase definitiva

não vô desisti
vô rezar pra Padim Ciço
e Ele há de me guiá

do meu sertão
não me vô
aqui nasci
ninguém vai me tirá daqui

o diabo
é que o demo
o coisa-ruim
insisti em me persuadi
qué me enfraquecê
mai só saio daqui
no dia em quéu morrê [...]

terça-feira, 18 de setembro de 2007

o tempo



o tempo

tempo voraz
que me consome
que engole tudo a volta
que não pára por nada
que não dá trégua
que não volta jamais

tempo
dono de sucessões intermináveis
de acontecimentos um após o outro
ou simultaneamente
tempo
elemento imaterial
que transforma tudo
e tudo transforma

tempo
que aflora nascimentos
que transforma arrependimentos

tempo
que não vacila
que não perdoa erros
que faz até gracejos
com ações da nossa vida

tempo
que vem pela frente
que nunca vira de costas
para assuntos pertinentes

tempo
que derruba certezas
e aguça tantas outras incertezas

tempo
insuficiente
que nunca nos satisfaz
que transforma em breve momentos
quase todos os suplicos de paz

tempo
inviolável
que não permite exageros
bem não-renovável
que nos transforma em prisioneiros

tempo de luz
tempo de trevas
tempo de paz
tempo de guerras
tempo de amor
tempo fértil
tempo de dor
tempo estéril
tempo de sêca
tempo de descobrimento
tempo de chuva
tempo de desconhecimento
tempo de silêncio
tempo de reflexão
tempo de barulho
tempo de alienação
tempo de tolerância
tempo de alegria
tempo de ditadura
tempo de guerra-fria
tempo de entendimento
tempo de paixão
tempo de afastamento
tempo de desilusão
tempo remoto
tempo de idolatria
tempo abundante
tempo de sabedoria

tempo, tempo, tempo
como eu gostaria
poder te dominar [...]
mas você é um cavalo alado
não se permite montar!

Marcos Leonidio

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Divagações orientais



DIVAGAÇÕES ORIENTAIS
Marcos Leonidio

Vou estudar física quântica
meditar no Tibet
me arvorar pelo desconhecido
pra ver se encontro
um jeito de reativar
sonhos adormecidos

Vou navegar pelo hemisfério norte
conhecer espécimes raras em Galápagos
tentar ludibriar a morte
fazer um exercício permanente
pra mim mesmo
sobre questionamentos
quase intermitentes

Vou prolongar minha estada pelo Oriente
tentar decodificar as culturas hindus
esquecer as afirmações do Ocidente
seja espiritualmente ou a olho nu
fugir das inquietações
de um mundo cinza
e menos azul

Vou ouvir mantras indianos em Bombaim
sem compromisso com a materialidade
que nos faz refém de nós mesmos
tentar entender um pouco de mim
longe da complexidade social
que distancia e faz as relações menos humanas
numa sociedade desigual

Vou explorar as montanhas do Himalaia
adormecido pelo Tempo
buscar encontrar respostas
que satisfaçam um juramento
talvez elas estejam nas encostas
escritas em sânscrito
ou numa luz do pensamento


Vou perambular pela Muralha da China
tentar me equilibrar pela razão
eliminar da minha mente
todas as curas capitalistas
que fomentam grandes nações
em detrimento da preservação da natureza do Homem
fugir dos tentáculos
das convicções imperialistas